A Doce Brisa dos Ventos
Livro: Conviver e Melhorar - 16 Lourdes Catherine * Francisco do Espírito Santo Neto
Fatores limitantes: Esforço-me intensamente para atingir os altos padrões da Vida Superior. Nunca me permito satisfações ou divertimentos sem que tenha cumprido rigorosamente todos os meus deveres espirituais. Tenho uma noiva, mas não consigo entendê-la. Eu a amo muito, mas estou profundamente desapontado com ela por não viver de acordo com os meus ideais religiosos. Sou um reformador de almas. Quero incentivá-la a uma vida sublimada, porém ela diz que apenas quer viver uma existência normal. Vive sempre afirmando que sou muito crítico em relação a tudo e que criei uma imagem discreta de superioridade, que me afasta da naturalidade. Acusa-me de viver isolado num pedestal e, por isso, de não conseguir entrosar-me com ninguém, a não ser com aqueles que pensam como eu. Gostaria que os Benfeitores Espirituais a impulsionassem a concordar com meus objetivos elevados de atingir a espiritualidade.
Expandindo nossos horizontes:
A Natureza - cântico da perfeição de Deus - representa um longo itinerário no universo das criaturas. Em tudo existe segurança e estabilidade; desde as estrelas até os mais simples vermes.
O homem alcança a espiritualização quando se torna capaz de transcender, ou seja, de se relacionar com a Vida em seus fundamentos mais amplos e profundos. Essa potencialidade humana existe em todos os níveis da civilização.
Permanecer como ser humano é uma das fases que o Criador destinou suas criaturas a viver. Recusar ser o que se é, ou mesmo, não viver essa etapa existencial seria o mesmo que negar os sábios propósitos da Providência Divina.
Para crescer e progredir espiritualmente não é preciso fazer nada fora do comum. Não é necessário executar coisas extraordinárias, mas simplesmente viver ou cumprir a normalidade da condição humana.
Você acredita que viver humanamente é viver na irresponsabilidade, no vício, na ilusão, no orgulho, enfim nas chamadas imperfeições terrenas. No entanto, a grande falha das pessoas, ou mesmo, o seu “pecado oculto” é viver longe do senso de realidade.
Jesus Cristo, Mestre Humanitário, é a criatura que viveu a mais primorosa e perfeita normalidade sobre a Terra.
Erroneamente, julgamos como anormais os feitos da vida de Jesus. Os prodígios de toda sorte descritos no Evangelho -suas curas “milagrosas”, sua ampla capacidade de amar e compreender - nada mais eram do que manifestações normais, fruto de seu alto grau de desenvolvimento espiritual. Suas façanhas não eram contrárias às leis da Natureza, mas fenômenos naturais, velados somente aos olhos da ignorância, razão pela qual passavam por miraculosos.
Há uma enorme dificuldade em compreender que, para evoluir, ninguém precisa tornar-se santo, mas apenas ser um homem normal.
A criatura religiosa pode não ser necessariamente espiritualizada. Porque muitas religiões são verdadeiros catálogos de modelos e regras que dizem como se deve viver ou se comportar. Por isso, as pessoas ficam presas a uma infinidade de preceitos impostos, enquanto que o ser espiritualizado pensa e age por si mesmo e faz voluntariamente as coisas em seu cotidiano. Percebe a essência da Vida Mais Alta em tudo, quer dizer, vê o “espírito da Natureza”.
A evolução faz parte de um processo natural da humanidade. Decorre de múltiplas experiências consciências; vivências essas que produzem graduais e profundas mudanças na visão interior das criaturas. Não se cresce intimamente sufocando a espontaneidade, as energias inatas ou adotando um comportamento social de intolerância mesclado a uma aparência santificante. Renovação íntima planejada e imposta não transforma, somente artificializa.
Os trigais não buscam orientação nos palavrórios afetados e pomposos, aos formalismos radicais, nem pedem permissão para as filosofias extremistas da Terra - simplesmente produzem o grão de trigo.
Os poetas gregos e romanos descrevem a união de Flora, a divindade dos vegetais, com Zéfiro, o vento Oeste.
Diz-se que um dia ambos se encontraram: A “senhora da primavera” recuou amedrontada e, num gesto de brandura, estende as mãos sobre plantas e flores para protegê-las do ímpeto destruidor de Zéfiro.
Ele tinha como único prazer desacatar a Natureza, danificar as florestas, devastar as plantações, arruinar as flores com seu sopro devastador e impiedoso.
Todavia, ante a luminosa beleza de Flora, a divindade do vento refreia o sopro, enamorando-se ternamente por ela. Após esse encontro, ele não mais se empenhou em desrespeitar a Natureza - a protegida de sua amada.
Embora apaixonada, Flora recusa triste a corte de Zéfiro; teme a sua índole tão diferente da sua. Para não perdê-la, ele promete aprender com o equilíbrio da Natureza a paciência e a serenidade do reino vegetal.
Então, na festa de núpcias, entre cores fulgurantes e perfumes dulcíssimos, une-se Flora a Zéfiro. E desde esse acontecimento, o vento Oeste passa a ser apenas uma doce brisa que tremula as pétalas das roseiras e a ramagem das campinas.
Observe na cartilha da Vida: a fonte nasce de um humilde filete de água para transformar-se um dia em enorme rio que descansará, futuramente, na glória dos oceanos.
O amor e o respeito à Natureza produziram uma verdadeira metamorfose na mentalidade de Zéfiro. Importante notar que ele continuou sendo “vento”, porém transformado agora em “branda aragem”. Aqui está uma expressiva alegoria para todos aqueles que se candidatam à espiritualização.
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