Como estragar um filho – regras básicas 1/2
06 por contadores.destorias
António Mazzi
Como estragar um filho em dez jogadas
Lisboa, Paulus Editora, 2006
(excertos adaptados)
Como estragar um filho em dez jogadas
Lisboa, Paulus Editora, 2006
(excertos adaptados)
1. Ande com um ar deprimido
Num estudo sobre crianças e solidão,
feriu-me e entristeceu-me uma constatação que as próprias crianças
fazem: 52 em 100, com efeito, afirmaram que elas não são solitárias, mas
os seus pais, sim. As crianças viam no olhar dos adultos a frustração, a
depressão e o cansaço afectivo e psicológico (o adjectivo “psicológico”
acrescento-o eu, entendamo-nos). Por isso, creio que não nos deve
passar despercebida esta sensação deprimente.
Em poucas palavras, os nossos filhos,
muito mais atentos e perspicazes do que pensamos, admitem quase
resignados: “O que podemos esperar de uma pobre mãe, de um pobre pai, em
plena crise existencial, tristemente curvados sobre si próprios,
incapazes de encontrar tempo e espaço para a sua própria ternura e
intimidade amorosa?”. Parece que os jovens já não se deixam fascinar nem
sequer encantar com as inúmeras iniciativas que os seus pais tomam para
passar o serão. São apenas paliativos e tentativas banais de preencher
um vazio de comunicação e a carência de manifestações genuínas de
afecto.
O estudo diz-nos que 7 em cada 10
crianças passam o dia a acumular actividades desportivas, aprendizagem
de língua estrangeira, música, dança, catequese, saltitando como
gafanhotos de umas instituições para as outras. Os miúdos inverteram
alegremente a nossa investigação, a nossa análise sobre eles. Deixo
escapar um sorriso quando penso que há anos que andamos, um tanto
hipocritamente, a dissertar e a ditar sentenças sobre a sua solidão, as
suas dificuldades, as suas grosserias, as suas paranóias e os seus
bandos.
Continuamos, para nossa vergonha, a
encher livros sobre a adolescência. Desgastamos as palavras que dizemos.
Consumimos sem critério os momentos da vida e deitamos ao ar todos os
dias inúmeras ocasiões para superar a solidão, a nossa e a deles. Também
eu vou dizendo que os adolescentes de hoje exigem uma presença mais
qualificada e motivada dos adultos. Sempre o disse e esperei que o papel
de pai fosse a primeira prioridade para quem escolheu trazer filhos ao
mundo. Pelo contrário, parece que, na ordem dos valores, os nossos
filhos vêm em terceiro ou quarto lugar.
Nós, adultos, temos privilegiado
teimosamente o trabalho, um conforto acéfalo e símbolos de um status a
roçar a teatralidade, convencidos de que estas coisas preenchem a alma.
Pelo contrário, estamos ainda mais sós que antes. Não são os
psiquiatras nem os psicanalistas que o dizem, mas os nossos filhos. E
estes não fazem batota!
2. Transforme a família numa caixa cheia de solidões
Ser pais, nestes tempos, não é o
trabalho mais gratificante.
Drogas, não só as ligeiras, mas
acompanhadas abundantemente de bebidas alcoólicas, consumidas por um em
cada três adolescentes; grupos de rapazes e raparigas que para se
divertir recorrem à violência, ao vandalismo e ao roubo; escolas que
abrem com ameaças de greve, emprego incerto, disciplinas sem professor e
professores desmotivados. E por último, se quisermos, mas não menos
importante, crianças obesas. A Itália, por exemplo, é o primeiro país
europeu que não sabe educar as suas crianças numa alimentação adequada
nem numa igualmente adequada actividade física e desportiva.
Ficar mais preocupado com a obesidade do
que com a droga e o álcool não é inteligente. Todavia, perfilados uns
após outros, estes factores não podem de modo nenhum deixar-nos
indiferentes porque, no fim de contas, todos convergem em direcção ao
primado do capricho. Pobres pais! Quero, então, deixar este alerta, não
para alarmar ainda mais, mas apenas como ocasião para voltar a reflectir
e a reorganizar a nossa vida (de adultos) e a vida deles (de jovens).
Um suplemento de um grande jornal italiano fez, há tempos, uma
reportagem sobre o estado de saúde dos nossos filhos, região por
região. O dado que mais se destacava e o mais pesado era o mal-estar
espiritual que, ainda que de diferentes modos, nos vai ferindo a todos.
Desapareceram aquelas relações
educativas fundamentais que uniam positivamente os pais aos filhos.
Temos tentado substituir estas relações interrompidas com um pouco mais
de presentes, de comida, de objectos de todo o tipo. Os jovens
responderam engordando, fechando-se nos seus quartos, perdendo a
auto-estima. A família, em poucos anos, de um ninho quente e seguro
tornou-se uma caixa cheia de solidões. Apressemo-nos a tomar medidas.
Comecemos a qualquer hora a ouvirmo-nos mais, recorramos menos ao
multibanco, retiremos à Rua e à Televisão tudo o que nelas temos vindo a
delegar.
Eu concordo principalmente sobre os pais andarem de cabeça baixa, sofro os reflexos de uma infância com uma mãe que só reclamava e nunca estava satisfeita com nada, sinal de depressão, hoje luto pra não deixar a bola cair para que a Sofhia não tenha essa visão do mundo. bjs
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