O PLÁGIO
Há quem se reveste da personalidade de outrem, ou a assume, para se ocultar, dissimular ou encobrir a própria personalidade. Mascara-se ou se "maquia" para alterar algo ou manter em segredo uma realidade que quer resguardar. Hammed
O GAIO ENFEITADO COM AS PLUMAS DO PAVÃO
Um gaio (ave da família dos corvídeos do tamanho aproximado de uma pomba e de plumagem marrom-avermelhada, com asas e caudas negras), apoderou das penas que um pavão trocara. Colocou-as em seu corpo e acreditando ser uma bela ave, foi exibir-se entre os outros pavões.
Reconhecido, ei-lo enxotado a bicadas e empurrões violentos. Depenado pelos pavões, ele foge entre vaia estrondosa, corrido, por ludibriar; leva o corpo em carne viva.
Buscando asilo e refúgio entre os gaios, seus iguais, foi repelido a assobios e gargalhadas.
Gaios bípedes eu conheço que não são imaginários; eles usurpam penas alheias e se chamam plagiários.
Mas, cala-te, boca! Não é do meu feitio apontar os impostores! Entre os pavões são notórios os gaios que se apoderam do que não lhes pertence.
O PLÁGIO
Plagiar não é somente fazer imitação de um trabalho alheio ou apresentar como da própria autoria uma obra artística, literária, científica que pertence a outrem. Pode também ser interpretado, psicologicamente, como uma atitude íntima que se opera na casa mental além dos limites da percepção consciente.
"Querer ser ou parecer o outro", na maior parte das vezes, é um fenômeno inconsciente, pois a atividade mental do indivíduo acontece por meio de atitudes imperceptíveis, não deixando explícita sua intencionalidade. Há, porém, inúmeras formas de plagiar que se encaixam perfeitamente no quadro de estados patológicos da mente.
Adornar-se com "penas de pavão" pode parecer simplesmente uma "fantasia", mas é uma defesa do ego que proporciona satisfação ilusória para os desejos íntimos não realizados. O inconsciente cria uma satisfação substituta que supostamente supre a realidade.
Há quem se reveste da personalidade de outrem, ou a assume, para se ocultar, dissimular ou encobrir a própria identidade. Mascara-se ou se "maquia" para alterar algo ou manter em segredo uma realidade que quer resguardar.
Esses processos psíquicos, são freqüentes em indivíduos saudáveis, mas, em excesso, eles sugerem sintomas neuróticos e, em alguns casos extremados, indicariam até psicopatia, transtorno mental caracterizado por desintegração da personalidade, conflito com a realidade ou fragmentação da casa mental. Daí o termo esquizofrenia: do grego skhizo (separar, dividir, fender) e phrên, phrenós (coração, alma, mente, vontade).
Existem homens que apresentam comportamento idêntico ao dos "gaios", pois vivem situações fantasiosas, impregnando-se de peculiaridades ou características de outrem, e se transformam, total ou parcialmente, de maneira irreal, no modelo idealizado. É um anseio imaginário em que o sujeito está vivenciando, de modo dissimulado, uma necessidade Íntima, consciente ou não.
Muitos de nós deixamos de viver saudavelmente porque idealizamos um futuro ilusório; e baseamos a vida em idéias sem consistência ou fundamentos reais. Esperar aceitação total na Terra é ilusão, e esperança de agradar a maioria das criaturas é ilusão ainda maior.
Recheamos a mente de teorias e idéias inacessíveis e a boca de admiráveis palavras, em vez de intensificarmos o melhor de nós mesmos na vida prática.
Mas só se vive de fato a partir da própria realidade. Por fora, podemos viver contemporizando com todos; mas por dentro, só escutando Deus em nós.
Por que objetivar para nós ideais de outrem quando o real não condiz com nossa essência?
Não estamos nos referindo à realidade circunstancial em que vivemos hoje, mas à que está no nosso Íntimo, que está além dos eventos do dia-a-dia e de todas as ocorrências externas. Somente produzimos a partir dos frutos oriundos do nosso âmago. Disse Jesus a respeito das aparências: "Por seus frutos os conhecereis ... " (Mateus, 1: 20)
As "árvores" não serão conhecidas e respeitadas apenas por sua aparência exterior. Não só pelo caule vetusto ou copa frondosa. Não apenas por suas folhagens verdejantes ou ramos mirrados. Nem pela feição imponente ou aspecto definhado. Não só pela exuberância das flores ou pelas pétalas sem viço. Não apenas pela fragrância suave ou pelos aromas desagradáveis. Mas sobretudo pelos frutos, pela serventia, pela capacidade de produzir. Igualmente acontece com a nossa individualidade transcendental em desenvolvimento.
Na natureza, os "gaios" são tão importantes como os "pavões" e, na coletividade humana, cada um de nós tem sua própria importância e é chamado a cooperar de modo singular no concerto da vida.
Um ser desperto e lúcido não nos analisará pelo que parecemos, não fará juízo de valor aquilatando simplesmente nossa exterioridade, ou mesmo examinando apressadamente nossos atos e atitudes, mas sim, observará nossa capacidade de realização e colaboração no bem comum e na nossa habilidade de expressar socialmente algo positivo de que todos possam usufruir.
"Pelos frutos os conhecereis" - afirmou Jesus de Nazaré. De nada nos adianta uma máscara ou aparência plagiada, pois seremos apreciados pelas nossas reais intenções e atitudes interiores. Por isso, sim, seremos conhecidos.
CONCEITOS-CHAVES
A - MECANISMOS DE DEFESA DO EGO
São processos psíquicos inconscientes que aliviam o ego do estado de tensão causado por ameaças e fatos inaceitáveis que emanam da realidade externa. Ao permitirmos que alguns conteúdos psicológicos indesejáveis cheguem claramente à consciência, esses mecanismos entram em ação para dar suporte enquanto não encontramos solução para os conflitos que julgamos incapazes de resolver.
B - MÁSCARA
Deriva do italiano maschera. Já as palavras "pessoa" e "personagem" originam-se do latim persona, que significa "máscara de ator de teatro". Todas as pessoas têm sua personalidade, ela é delimitadora de sua relação com seus iguais, é a máscara que todos usam nas suas relações interpessoais. Conceitua-se personalidade tudo aquilo que distingue uma pessoa de outras, quer dizer, o conjunto de características psicológicas que determinam sua individualidade.
C - IDEALIZAÇÃO
É viajar ao mundo da fantasia. É tirar os pés do chão e pisar num palco, onde representamos imprevistos e inusitados papéis. No amor, a idealização é uma aventura irreal, um conto de fadas. É assim que pensam muitos: "ela corresponderá a todos os meus anseios"; "ele será decidido e me protegerá sempre", "ela jamais me decepcionará", "ele nunca olhará para outra"; "ela será servil e me deixará tomar as decisões". A insanidade do idealizador é ignorar a própria idealização e a vida real, que passa despercebida.
MORAL DA HISTÓRIA:
Quem não se contenta com o que é e com o que teme cobiça o que ao outro pertence acaba perdendo o que lhe era próprio. Tomemos consciência do que nós somos agora. Vivamos o hoje. Sem expectativas e idealizações, estaremos rumo à nossa própria realidade, ou seja, à existência pela qual Deus nos criou. Aquele que vive a partir de sua essência, sem se deixar escravizar pelas forças obscuras das convenções sociais, com certeza atingirá seus objetivos íntimos e cumprirá suas metas existenciais. Possuímos uma vida singular. Esse sentimento de que todos menos nós temos uma vida de valia, utilitária e valorosa é repercussão do passado. Crenças negativas que nos impedem de desenvolver saudavelmente a criatividade. A felicidade de cada indivíduo existe na proporção direta do grau de realidade em que ele vive.
REFLEXÕES SOBRE ESTA FÁBULA E O EVANGELHO:
"( ... ) e enviaram-lhe os seus discípulos, juntamente com os herodianos, a dizer: Mestre, sabemos que és verdadeiro, e que ensinas segundo a verdade o caminho de Deus, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens." (Mateus 22:16.)
"A benevolência para com os semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura que lhe são a manifestação. Entretanto, não é preciso se fiar sempre nas aparências; a educação e a civilidade do mundo podem dar o verniz dessas qualidades. Quantos há cuja fingida bonomia não é senão máscara para o exterior ( .. .)" (ESE, cap. IX, item 6, Boa Nova Editora)
"TÃO ACOSTUMADOS ESTAMOS A NOS DISFARÇAR PARA OS OUTROS QUE ACABAMOS NOS DISFARÇANDO PARA NÓS MESMOS."
LA ROCHEFOUCAULD
HAMMED
La Fontaine e o
comportamento
humano
Querida amiga, seu blog esta lindissimo!
ResponderExcluirContinue nesse caminho!
Beijos!